FILME LAZZARO FELICE

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Filme Lazzaro Felice, é um garoto pobre e pouco inteligente, mas extremamente bondoso. Explorado pelos familiares, faz trabalhos forçados diariamente, além de colaborar com a marquesa, proprietária das terras onde vivem. No entanto, após uma tragédia, Lazzaro retorna à vida no século XXI. Ele não compreende mais a lógica deste mundo, mas pretende reencontrar a sua família e viver como antigamente.

  • Direção: Alice Rohrwacher
  • Título: originalLazzaro felice
  • Gênero: Drama
  • Ano: 2018
  • País de origem: Itália / Suíça / França / Alemanha

 

CRÍTICAS E SINOPSE – FILME LAZZARO FELICE

O personagem-título do longa-metragem italiano Lazzaro Felice, vivido de forma sublime por Adriano Tardiolo, é um jovem aparentemente intocado pela maldade.

Perdeu a mãe, nunca conheceu o pai e é criado pela avó idosa em uma propriedade rural esquecida no meio das montanhas, onde se cultivam o tabaco e o trabalho escravo.

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Em um tempo-espaço não determinado, mas possivelmente na segunda metade da década de 1990 (já se veem telefones celulares), o rapaz, ainda adolescente, e os demais empregados da fazenda, que pertence a uma certa marquesa Alfonsina De Luna (Nicoletta Braschi, de A Vida É Bela), trabalham exaustivamente para pagar suas dívidas infindáveis.

São servos de uma ordem social cruel e excêntrica, porém bem menos arcaica do que se supõe, todos sabemos, ou deveríamos saber.

Os camponeses intuem que há algo de errado na vida que levam, mas a ignorância, a ausência literal de horizontes, os impedem de se rebelarem, de partir.

No microcosmo onde existe, Lazzaro é o subalterno dos subalternos. Vive para servir a todos e jamais diz não.

É uma espécie de Cândido, personagem da obra clássica de Voltaire, cuja disposição para as boas ações, a generosidade, dele faz uma presa fácil para o abuso, a exploração e a crueldade.

Sua ingenuidade é tamanha que, mesmo entre oprimidos, ele se coloca em posição de subordinação, sempre passivo, aquiescente.

Sua vida apenas começa a quebrar a linearidade quando conhece mais de perto o filho da marquesa, Tancredi (Luca Chikovani), frágil tanto física quanto psicologicamente, mas ainda assim bastante crítico em relação aos absurdos desmandos da mãe.

Tancredi se aproxima de Lazzaro, o fazendo crer que podem ser meio-irmãos por parte de pai e o convence a participar do plano de um falso sequestro, com o objetivo de tirar dinheiro de Alfonsina, que já acostumada aos golpes do filho, sempre malsucedidos, não cai na armadilha. A farsa, todavia, desencadeia uma sucessão irreversível de fatos que mudarão radicalmente o rumo da trama.

Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes deste ano, Lazzaro Felice, já em exibição no Netflix antes de estrear nos cinemas brasileiros, não é um drama realista.

Investe em outro registro: o de uma fábula distópica, na qual os personagens são arquetípicos, do protagonista à marquesa. Todos detêm potência simbólica e representam bem mais do que indivíduos. São forças sociais.

 

FILME LAZZARO FELICE

Num primeiro momento, Lazzaro Felice se apresenta como um ensaio peculiar da subserviência de camponeses humildes a uma “nobre” marquesa, latifundiária e exploradora.

Na propriedade italiana cuja principal fonte de renda é o tabaco, o tempo parece indeterminado, especialmente pelas relações trabalhistas semelhantes às dos anos de escravidão.

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Não fossem alguns elementos, tais como o telefone celular e outros aparelhos eletrônicos, facilmente a trama do longa-metragem de Alice Rohrwacher poderia ser confundida com algo ambientado em outro século.

O protagonista é Lazzaro (Adriano Tardiolo), destoante da paisagem humana da região por sua bondade e resiliência incomuns.

Quebrando o fluxo que rege ancestralmente a localidade, ele não se aproveita de alguém, ao contrário, pois explorado em virtude dessa vontade intermitente de fazer o bem ao próximo.

A religiosidade surge na narrativa como argamassa do insondável. O povo recorre à mitologia dos santos sofredores para espelhar a sua miséria e, assim, seguir em frente, entorpecido de lendas.

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Portanto, os símbolos escondidos na residência da marquesa são apenas sintomas das crenças populares disseminadas através dos séculos, inclusive, para “explicar” abismos de classe.

Não à toa, diversos personagens de Lazzaro Felice possuem nomes bíblicos, a começar pelo garoto de ingenuidade cativante, batizado como aquele a quem, de acordo com as sagradas escrituras do cristianismo, Jesus ressuscitou para demonstrar a glória de Deus.

A realizadora investe de maneira excepcional na construção de um painel comunitário marcado pela vilania asquerosa da subjugação alheia, como se tal conduta fosse condição essencial para sobreviver num mundo dominado metaforicamente por lobos.

Aliás, a presença, de fato, das criaturas lupinas, sempre à espeita, é uma ponte lírica com a maldade à qual Lazzaro é totalmente refratário.

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Porém, adiante, a ligação com os animais se mostra menos condicionada pela lógica convencional, porque justamente um deles testemunha (ou serve de emissário?) ao milagre que deflagra o caráter fantástico do filme.

Alice Rohrwacher utiliza com habilidade a geografia a fim de ambientar a sua parábola, enriquecida por um discurso social bem fundamentado em processos históricos ligados, também, às crenças.

Montanhas, encostas, vales e demais espaços são descortinados com o intuito de torna-los indispensáveis, uma moldura sintomática do descolamento da estrita realidade.

Adriano Tardiolo constrói o protagonista como uma figura cativante por sua negação ontológica da maldade em prol da disseminação do bem.

Ele encontra um companheiro insólito no burguês aparentemente revoltado com sua origem, porém mais interessado em afrontar a autoridade da mãe.

É justamente Tancredi (Luca Chikovani), o marquesinho, que acentua a dimensão lendária, verbalizando instâncias que Lazzaro assume ingenuamente como literais, vide a lorota acerca da possibilidade dos dois serem meios-irmãos, e o estilingue malfeito, transformado pelo poder da palavra numa arma importante. Lazzaro Felice é um filme engenhoso, no qual as ricas camadas vão se entremeando.

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A segunda metade, principiada por um salto temporal considerável que, por sua vez, é pontuado pela ressurreição de Lazzaro, apenas confirma a observação melancólica da pobreza como um resíduo da ganância insidiosa de alguns.

Libertados da escravidão, os antigos moradores agora são mendigos, sobremaneira largados à própria sorte por um sistema que prega publicamente a justiça, mas não exatamente a de cunho social. Há um quê de Feios, Sujos e Malvados (1976) nessa constituição marginal na urbe.

No novo cenário, o protagonista tende a se tornar um tipo ainda mais trágico, já que dono de um altruísmo discrepante do entorno muito depauperado.

Alice Rohrwacher alia as esferas fantástica e realista, criando um conto moral consistente, no qual a virtude de uns serve à redenção dos menos iluminados.

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O protagonista levanta e anda, assumindo, de forma orgânica e cinematograficamente sofisticada – vide a beleza dos planos e da construção narrativa –, a função do martirizado que purifica. Difícil esquecer o semblante luminoso desse cordeiro.

Sobre Moisés Oliveira

Especialista em Marketing Digital, acompanha tendências e oportunidades de Comunicação Integrada. Responsável pela estratégia online e performance de anunciantes em diferentes segmentos, sua atuação em agências de publicidade e veículos de comunicação agrega valor à carreira iniciada na Administração.

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