Filme O Diabo de Cada Dia – 1
Filme O Diabo de Cada Dia ou The Devil All The Time, no filme um pastor profano (Robert Pattinson), um casal perverso (Jason Clarke e Riley Keough) e um xerife corrupto (Sebastian Stan) são alguns dos habitantes sinistros de Knockemstiff, uma região remota de Ohio onde o jovem Arvin Russell (Tom Holland) enfrenta as forças do mal que ameaçam sua família.
Filme O Diabo de Cada Dia, o filme é ambientada entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, a trama acompanha diversos e bizarros personagens num canto esquecido de Ohio, nos Estados Unidos.
Cada um deles foi afetado pelos efeitos da guerra de diferentes maneiras. Entre eles, um veterano de guerra perturbado, um casal de serial killers e um falso pregador.
O diabo o tempo todo
CRÍTICA
Há muitos personagens nessa polifonia conduzida pela voz do narrador que confere ao filme um tom de fábula, mais especificamente de parábola.
Arvin (Michael Banks Repeta/Tom Holland) é um herdeiro direto do que corrompeu seu pai, primeiro, por meio da devoção exacerbada – utilizada para sustentar os crimes hediondos, caso eles sejam tidos como obra da inefável vontade divina –, e, segundo, pelos anos passados no front da Segunda Guerra Mundial.
Filme O Diabo de Cada Dia
William (Bill Skarsgård), esse genitor perturbado pela imagem do colega soldado crucificado, se reconcilia com a convicção religiosa ao criar uma igreja particular, improvisada nos fundos do lar em que cultiva sua família tradicional.
Ele ensina ao menino a prevalência da força, comprovando essa sua tese ao demonstrar agressividade, como quando lhe sinaliza o poder do revide.
A bíblia e o Estado os levam a pensar que o reino dos céus, bem como o dos cidadãos proeminentes, está reservado àqueles que não se deixam ser humilhados e respondem à altura munidos da lei de talião, ou seja: olho por olho, dente por dente.
O Diabo de Cada Dia costura com habilidade as pequenas tramas protagonizadas por vários agentes.
Seria fácil perder-se no deslocamento entre as demandas de cada um, mas o filme consegue a proeza de realizar as transições/articulações de modo orgânico, com isso estabelecendo uma contiguidade essencial.
É com brutalidade emocional que William convida seu filho a orar pelo restabelecimento da saúde da esposa/mãe.
A crença, aditivada de desespero e da sensação de impotência, deturpa esse homem que até ali fez o que pôde para lidar com seus fantasmas.
Se não fosse o cão, quem sabe ele não teria feito como Abraão diante do pedido de Deus e sacrificado o próprio filho em prol de um milagre.
Filme O Diabo de Cada Dia
Aliás, esse “chamado divino” também aparece no pregador que acaba assassinando a esposa por acreditar que pode operar milagres.
O cineasta Antonio Campos – filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes – pontua que a fé é poderosíssima, tanto que passível de ampliar a corrupção dos homens submetidos à toda sorte de provações sociais, das banais até às menos cotidianas.
Diante desses “pedidos de Deus”, uma jovem se deixa levar pelos sermões baratos de um pastor sintomaticamente caricatural (interpretado com brios por Robert Pattinson).
Na medida em que pessoas são incorporadas à trama, em que duas cidadezinhas interioranas são compreendidas como paragens umbilicalmente irmanadas por esses traços de comunidade adoentada não propriamente pela crença, mas por aquilo que dela se faz, fica mais evidente que estamos diante de um cenário cáustico onde os culpados e os inocentes vão sendo despercebidos/misturados num jogo de fusão engenhoso.
Arvin reproduz na adolescência o fundamento aprendido com o pai no dia em que o viu retaliando.
A ele o perdão soa como absolutamente ingênuo, abraçado por aqueles fadados a sucumbir num entorno semelhante a uma selva dantesca.
O desfecho reservado à irmã adotiva aponta à confirmação da lógica desalentada. Os poucos partícipes verdadeiramente bons do filme ficam à margem, inclusive não tendo nenhum poder de decisão e autonomia por ali.
Filme O Diabo de Cada Dia
Pode-se também entender a violência em O Diabo de Cada Dia como indício da lei do eterno retorno, segundo a qual toda a existência e energia recorrentes continuarão a ocorrer dentro de um padrão cíclico.
Ao serem ferozes para responder a um âmbito essencialmente feroz, os personagens acabam nunca quebrando (pelo contrário) esse pacto de hostilidade que percorre o enredo como que o eletrificando.
No filme há um tom entre o irônico e o melancólico, algo visto, por exemplo, na constatação de quem o assassino do casal de serial killers poderia ser perfeitamente filho deles – isto posto por conta de uma coincidência que alimenta a noção de fio invisível tecido pelo destino.
Da mesma forma, Deus conversou de fato com o devoto, pregando-lhe uma peça ao garantir poderes espetaculares de ressurreição?
São detalhes indeterminados (diante dos quais não cabem respostas) que fomentam a linguagem simbólica utilizada por Antonio Campos para construir essa parábola em que a narrativa bíblica desemboca nos Estados Unidos repletos de charlatães que falam em nome do Todo Poderoso e dos arrastados pela senda colérica retroalimentada, uma geradora de distorções como essa gente.