FILME DESTEMIDA
Filme Destemida, no filme uma cantora jovem e talentosa faz sucesso em um show de talentos. Mas o que ela quer mesmo é o reconhecimento de um jurado muito especial: seu pai
- Ficha Técnica: Destemida (Original Netflix)
- Título Original: Jak zostac gwiazda
- Duração: 118 minutos
- Ano produção: 2020
- Estreia: 2 de dezembro de 2020
- Distribuidora: Netflix
- Dirigido por: Anna Wieczur-Bluszcz
- Orçamento:
- Classificação: 14 anos
- Gênero: Comédia, Drama, Musical
- Países de Origem: Polônia
CRÍTICA E SINOPSE – FILME DESTEMIDA
Talento e paixão pela música podem levar alguém ao topo. No caminho, porém, haverá armadilhas do showbiz. Há dinheiro, fama e fãs envolvidos.
Uma jovem será capaz de lutar por seus sonhos neste mundo sem barreiras onde a fama é tão evasiva?
A trama de Destemida mostra que um polêmico show de talentos chamado “Music Race”, que continua procurando cantores talentosos em todo o país.
A decisão sobre quem continuará em busca de um sonho, ou quem retornará para casa, fica sempre com os três jurados: um cantor outrora popular, Olo (Maciej Zakoscielny), a rainha das redes sociais, Ewa (Julia Kaminska) e a dama do jazz polonês, Urszula Dudziak (interpretando ela mesma).
Contudo, durante uma audição realizada na cidade natal de Olo, uma briga acaba acontecendo.
A pessoa responsável por iniciar a situação é “Ostra” (interpretada por Katarzyna Sawczuk). A adolescente rebelde está indignada com o comportamento arrogante e desdenhoso de Olo em relação à mãe (Anita Sokolowska), que por sua vez garantiu para a jovem que o mesmo é o seu pai.
O pequeno escândalo agrada ao produtor do show (Tomasz Karolak), que então decide colocar “Ostra” na próxima fase do programa.
FILME DESTEMIDA
Ambientado nos bastidores de um reality show musical, Destemida ensaia, mas perde a oportunidade de fazer um retrato ácido desse mundo em que gente real luta pela fama num ambiente condicionado pela lógica das celebridades.
Ao invés disso, a cineasta Anna Wieczur-Bluszcz prefere seguir caminhos conhecidos quando o assunto é a necessidade de superar barreiras para triunfar.
A protagonista é Ostra (Katarzyna Sawczuk), menina interiorana que não está entre as mais populares da escola.
Embora seja linda, parece que seu estilo new grunge de vestir é suficiente para ser considerada uma desajustada.
Se trata da adesão a uma convenção bastante repetida ultimamente, a da suposta exclusão de figuras que, no fim das contas, precisavam apenas de um penteado e de maquiagem para serem deslumbrantes.
Porém, quem dera as simplificações fossem apenas as das ordens do figurino e da concepção das personalidades.
Ela também está presente, de modo determinante, na instauração e na resolução dos tantos conflitos, dentro de um roteiro apressado e displicente.
Decidida a se vingar de Olo (Maciej Zakoscielny), famoso jurado do programa de calouros, o pai que a abandonou, Ostra pega o microfone numa audição e dispara contra o sujeito.
A ganância dos produtores permite que, a partir do sucesso de visualizações do barraco, ela seja convidada posteriormente ao palco, mesmo sem provar qualquer valor enquanto cantora.
É uma lógica semelhante à regente de Rede de Intrigas (1976), no qual igualmente alguém tem sua fúria (supostamente subversiva) reaproveitada como nutriente de audiência.
Não que se espere desse drama pouco ambicioso o tônus cáustico da obra-prima de Sidney Lumet, mas talvez não seria pedir tanto que tal sinalização ganhasse desdobramentos.
Aliás, os apontamentos de natureza crítica que Destemida direciona à indústria do entretenimento são esvaziados pela utilização ostensiva e pouco criativa das caricaturas.
O produtor manipulador e a jurada robotizada pelo sistema de curtidas e compartilhamentos são peças facilitadoras, não exatamente complicadoras.
Ambos não existem para colocar o dedo na ferida, por assim dizer, pois valem somente o quanto pesam à fronteira entre joio e trigo.
Há um percurso de amadurecimentos em andamento. Entretanto, Destemida teima em aderir a obviedades, por exemplo, exagerando no modo como a protagonista transforma cada apresentação numa possibilidade de atacar publicamente o pai resistente à ideia de paternidade.
Nesses momentos, o longa se resume a dinâmicas de indiretas e “respostinhas”. As letras falam de alguém que não precisa de outrem, de como mágoas cimentam o diálogo e por aí vai.
À medida que a personagem de Katarzyna Sawczuk ascende, ganhando seguidores e notoriedade, perde contato com a essência, assim se colando a outro clichê – o da capacidade inebriante da fama que corrompe os corações puros e sinceros – sem que haja propósito denso a isso.
É evidente que Anna Wieczur-Bluszcz condiciona a mudança de paradigma de Olo à constatação de que a filha segue seus passos erráticos rumo à danação.
Assim, o arrependimento vem a reboque de uma forçada noção de responsabilidade, o que o faz cair no surrado arquétipo do salvador, o do homem a quem a mulher indefesa precisa recorrer.
Problemas enraizados, ressentimentos profundos, pisadas na bola, entre outras circunstâncias intrincadas, são resolvidos numa sucessão desajeitada de pequenas catarses.
Sem dúvida, o palco é um lugar propício à delineação dessas narrativas de superação, êxtase, tensão e júbilo, mas Anna Wieczur-Bluszcz passa longe de valer-se bem dessas concepções.
Para consolidar o gosto da cineasta pelos lugares-comuns, sem a demonstração de vontade equivalente de brincar com eles ou subverter pilares centrais, o adolescente apaixonado, vitimado pela mudança da protagonista, surge como contraponto de inocência (interiorana, virtuosa, etc.) ao perigo representado pelo jovem da cidade grande capaz de ser perverso para sobressair nesse entorno que premia a falta de ética.
A oposição reducionista também se vê no embate velado entre a professora casta da cidade pequena e a influencer cosmopolita vestida de maneira provocante.
O resultado é um conjunto de situações e desenvolvimentos consagrados pela reiteração, aqui meramente reutilizados sem personalidade.