FILME CORRENDO CONTRA O TEMPO

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Filme Correndo Contra O Tempo, no filme o detetive Jack Radcliff (David Oyelowo) acaba de perder Ashley (Storm Reid), sua sobrinha que foi assassinada. No entanto, dias após o ocorrido, ele recebe uma ligação da menina, que não faz ideia do que está por vir. Percebendo que está num futuro próximo, Jack precisa correr contra o tempo para ajudar Ashley a impedir o crime.

  • Título Original: Don’t Let Go
  • Gêneros: Suspense, Suspense Dramático
  • Duração: 100 minutos
  • Direção: Jacob Estes
  • Elenco: David Oyelowo, Storm Reid, Mykelti Williamson, Brian Tyree Henry
  • Ano de Produção: 2019
  • País: Estados Unidos

CRÍTICAS E SINOPSE – FILME CORRENDO CONTRA O TEMPO

Todos os filmes sobre lapsos temporais onde informações do futuro podem mudar o passado (e vice-versa) já foram feitos.

FILME CORRENDO CONTRA O TEMPO

Essa é a a impressão ao assistir Correndo contra o Tempo, cansativa produção da Blumhouse – a produtora da moda, pós-Corra! – que até tem uns trunfos na manga, mas que não incita qualquer nova discussão ou parêntesis sobre o assunto.

Você já viu e se divertiu com esse filme antes, algumas vezes por ano, agora inclusive sendo produzido em inúmeros países diferentes, e esse lançamento de hoje da plataforma Telecine volta a entreter, porém ao não trazer nenhuma nova camada ao molho que já vimos produzido, se lança para o esquecimento tão logo encerre sua projeção.

Produzido e protagonizado pelo muito talentoso David Oyelowo (de Selma e Um Reino Unido), o filme acompanha o luto de um policial que perde toda a família num massacre, e se espanta ao receber o telefonema da sobrinha que também morreu.

Pior: ela aparenta não fazer ideia do que aconteceu. Logo ele percebe que ela lhe liga do passado, e ele pode assim não apenas impedir suas mortes como tentar descobrir os responsáveis pelo evento trágico.

Eventualmente sua sobrinha lhe procura (ao menos duas vezes) e esse encontro, da menina com informações privilegiadas com ele mesmo ainda com desconhecimento do futuro, altera as linhas do tempo e promove o rearranjo dos destinos.

É compreensível a participação da Blumhouse em um projeto como Correndo Contra o Tempo (2019).

A produtora tem construído uma tradição sólida do cinema de horror voltado ao medo da invisibilidade, traduzindo-se na fobia do outro e na fobia da diferença.

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A partir dos fantasmas convencionais de Atividade Paranormal (2007), começou a desenvolver narrativas mais sofisticadas em termos de discurso social e de linguagem cinematográfica.

Surgiram projetos que testam os limites da relação entre seres solitários e casas inóspitas (O Homem Invisível, 2020, Ma, 2019), sociedades fascistas (A Caça, 2020, Corra!, 2017, Uma Noite de Crime, 2013) e o embate do indivíduo consigo mesmo (Nós, 2019, Cam, 2018).

Não são necessários fantasmas nem monstros: o horror está dentro das famílias, nas vizinhanças. O suspense de 2019 dirigido por Jacob Estes também explora a invisibilidade, o medo do outro, o inesperado enfrentamento de uma pessoa consigo mesma.

Após o policial Jack Radcliff (David Oyelowo) perder o irmão, a cunhada e a sobrinha num assassinato, ele começa a receber ligações desta última. Como a jovem morta poderia estar ligando?

Está lançada uma investigação culminando no confronto entre dois Jack, duas Ashleys (Storm Reid), e duas temporalidades paralelas.

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O conceito se traduz numa bela ideia de cinema. Primeiro, porque não busca explicar a sua premissa improvável.

Vinte anos atrás, teria sido obrigatório dentro do cinema comercial lançar princípios científicos capazes de sustentar esta fantasia, ainda que adotando múltiplas liberdades em relação ao realismo.

Ora, este roteiro apenas aceita o fato que isso aconteceu, talvez por milagre (a possibilidade de uma ajuda divina é explicitamente mencionada rumo à conclusão) ou por alguma falha cósmica aleatório.

Segundo, o conflito permite que o tio carinhoso e sua querida sobrinha atuem em espaços e tempos separados, porém unidos pela montagem.

Durante 80% da trama, David Oyelowo e Storm Reid se encontram sozinhos em cena, apavorados, porém a montagem faz com que eles literalmente dividam a mesma mesa de uma cafeteria e conversem ao telefone.

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Este é um dos únicos casos em que a alternância de plano e contraplano constitui, em si própria, um gesto de gênero, um movimento subversivo em direção ao cinema fantástico.

Não há grandes perseguições, explosões nem corridas na história – a fuga da garota ocorre por calçadas vazias, ensolaradas e amigáveis.

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O dilema se constrói pela alternância cronológica entre duas histórias que não o são. O horror, neste caso, nasce com a montagem.

Infelizmente, a investigação policial recheando este exercício de linguagem se revela fraquíssima. As mortes de uma família inteira são imediatamente interpretadas como um assassinato seguido de suicídio, sem uma justificativa plausível para tal interpretação.

Em seguida, Jack se torna suspeito no caso, algo explicitado numa cena absurda e sem qualquer consequência narrativa. As hipóteses do policial sobre a verdadeira motivação do crime (envolvendo datas num calendário, descoberta de uma associação criminosa etc.) ocorrem numa velocidade espantosa.

Para ocultar tantas improbabilidades e conveniências, o filme simplesmente passa o mais rápido possível por elementos fundamentais à investigação (a janela pintada, a mochila, o guardanapo, as placas do carro, a caixa debaixo da cama), talvez para impedir que o espectador tenha tempo de perceber os inúmeros buracos da narrativa.

Ninguém esperaria um desenvolvimento inovador, apenas algo construído com maior cuidado e respeito à lógica interna. Mykelti Williamson, Alfred Molina e Brian Tyree Henry são desperdiçados num quiproquó investigativo que sequer sustentaria um episódio de série procedural.

Além disso, em termos de produção, Correndo Contra o Tempo apresenta uma estética pouco polida para o padrão da Blumhouse.

Os produtores aprenderam a extrair o medo de elegantes planos fixos (O Homem Invisível), de câmeras subjetivas tensas (Corra!) ou de um fluido trabalho com estabilizadores de imagem (saga Invocação do Mal).

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No entanto, Estes aposta numa câmera na mão tremida em excesso (chacoalhando ainda mais ao sugerir presenças sobrenaturais), para imprimir artificialmente o tom de urgência. O filme inteiro sustenta a cor azul-esverdeada, sem força nem contraste, próxima de uma escala cinzenta.

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Por que os criadores teriam optado por uma correção de cor tão pouco convidativa, sem variações, sem volume nem textura? Os espaços são mal aproveitados, assim como os deslocamentos dentro de casas e delegacias de polícia.

A maior parte das cenas se concentra nos rostos esverdeados de Oyelowo e Reid, de olhos marejados e respiração ofegante, o que tampouco ajuda no arco narrativo. Ambos os atores são muito bons – Reid, em especial, se mostra incrivelmente talentosa e confortável diante das câmeras para uma atriz tão jovem -, porém não ganham um personagem complexo.

Vemos uma aliança no dedo do policial, mas não há sinal de vida amorosa em cena. O único laço social mantido pelo homem adulto provém da amizade com a sobrinha pré-adolescente. Não haveria algo estranho nisso?

A trama se encerra com uma reviravolta previsível para qualquer fã de suspenses policiais, visto que esta revelação em particular reproduz um dos recursos mais utilizados dentro do gênero.

Para o espectador, teria sido fundamental acompanhar cada suspeita sobre o crime junto de Jack, identificando-nos com ele e atestando o sucesso ou fracasso de cada passo da busca.

No entanto, a trama atropela os fatos, expulsando o espectador do jogo. Somos apenas informados de descobertas efetuadas por terceiros, das quais não poderíamos participar.

Não pode torcer nem temer por quem não conhece, e não podemos montar nossa própria imagem mental sem receber as peças do quebra-cabeça.

Ao final, a descoberta do vilão importa pouco, porque não se havia tensão forte o bastante para sustentar o esperado choque da revelação.

Restam algumas escolhas belas e raras dentro do cinema comercial (vide o diálogo inteiramente em off, sobreposto a uma cena não-referente), porém associadas a uma realização pouco cuidadosa e uma direção de fotografia inexplicavelmente negligente. A Blumhouse tem elevado o cinema B ao nível estético das melhores produções da indústria.

No entanto, o trabalho de Estes e do diretor de fotografia Sharone Meier retornam à feitura habitual do home video, com tudo de confortável, familiar e pouco ambicioso que isso possa significar.

O elenco apresenta um grupo de atores que tem talento comprovado muitas vezes antecipadamente ao visto aqui, mas que ou não tem o que fazer por falta de espaço, ou por falta de desenvolvimento dos personagens.

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Dois exemplos mais específicos são os de Alfred Molina e Brian Tyree Henry. O primeiro, apesar de aparentar ser o superior ao protagonista, aparece apenas duas vezes no filme e a primeira tem 40 minutos, como se tivesse estado em cena antes; o segundo praticamente só existe no comentário alheio, e pessoalmente não parece em nada com o tipo descrito continuamente até o clímax sem qualquer emoção. Isso porque a mãe da protagonista feminina… bom, não tem o que dizer sobre uma personagem que é assassinada e quase não vemos.

A impressão que temos ao assistir Correndo contra o Tempo é que não apenas esse filme foi feito inúmeras vezes antes como em quase todas era melhor, mas que seu elenco inteiro foi desperdiçado mesmo que esbanje carisma e talento quando exigido. Oyelowo e a jovem Storm Reid (de Uma Dobra no Tempo) têm química juntos e nos convencem de sua ligação, mas todo o resto não empolga e não seduz.

Sobre Moisés Oliveira

Especialista em Marketing Digital, acompanha tendências e oportunidades de Comunicação Integrada. Responsável pela estratégia online e performance de anunciantes em diferentes segmentos, sua atuação em agências de publicidade e veículos de comunicação agrega valor à carreira iniciada na Administração.

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