Filme Entre Laços
Filme Entre Laços, no filme Tomo (Rinka Kakihara), de apenas 11 anos, é abandonada pela mãe e passa a viver com o tio, Makio (Kenta Kiritani), e sua namorada, Rinko (Toma Ikuta).
Inicialmente com pensamentos confusos após descobrir que Rinko é uma mulher transexual, Tomo vai aos poucos descobrindo o verdadeiro sentido de família.
Link do vídeo: Entre Laços
Data de lançamento: 17 de maio de 2018 (2h 07min)
Direção: Naoko Ogigami
Elenco: Tôma Ikuta, Rinka Kakihara, Kenta Kiritani mais
Gênero: Drama
Nacionalidade: Japão
CRÍTICAS: FILME ENTRE LAÇOS
Hiromi (Mimura) não nasceu para ser mãe. Tanto que diz, em alto e bom som: “antes da maternidade, vem o fato de eu ser mulher”.
Talvez por isso não consiga parar num emprego, e nem mesmo na própria casa. Afinal, a cada novo namorado, larga tudo e joga nessa paixão – que, como bem sabemos, deverá ser efêmera.
Quem acaba sofrendo com essa inconstância é a pequena Tomo (Rin Kakihara), que já conhece a rotina: ao se ver sozinha, é a tio, Makio (Kenta Kiritani) a quem deve recorrer.
Ele, porém, não está mais sozinho, e ao levá-la para sua casa, a apresenta para Rinko (Tôma Ikuta), sua namorada.
Entre-Laços, longa escrito e dirigido por Naoko Ogigami, apresenta esse cenário com cuidado, sem atropelos, nem demoras.
E ao final desse primeiro ato, inclui mais um elemento de extrema importância para o que virá a seguir: Rinko é uma mulher transexual.
A situação, no entanto, não chega a ser uma surpresa – afinal, vinha sendo tramada aos poucos. Ao chegar no colégio, Tomo encontra no quadro negro a palavra “viado” escrita em letras maiúsculas, deixando claro o bullying que rola entre os garotos na hora do intervalo.
Filme Entre Laços
Logo depois, ao voltar para casa, se recusa a falar com um menino afeminado, que não só é da mesma classe que ela, como também é seu vizinho. “Não fale comigo, ou senão vão pensar que sou como você”, diz a ele rispidamente, antes de partir com pressa.
O tema da intolerância sexual é forte nessa comunidade no interior do Japão. Este é outro fator que desperta curiosidade: não estamos numa metrópole, o que poderia significar um avanço cultural, mas também a presença da religião não se faz de forma opressiva, o que explicaria tanto preconceito.
Esse comedimento, por outro lado, se reflete também na própria dramaturgia: o casal protagonista, Makio e Rinko, mal se encosta durante toda a ação, e se chegam a trocar um beijo em um único momento, esse se dá de forma tímida, quase fraternal.
Levantando mais dúvidas do que oferecendo respostas, o filme de Ogigami segue a jornada da pequena Tomo.
Aos poucos, ela vai se afeiçoando por Rinko, mesmo diante do desconforto que a mãe dessa representa, ou do confronto que pode significar a simples ida à sala de aula, a partir do momento em que seus colegas descobrem onde – e com quem – ela está vivendo após o abandono materno. “Você não deveria ficar perto de pessoas como essa”, lhe diz a mãe do menino que também sofre preconceito, sem nem perceber os problemas enfrentados pelo próprio filho.
Por outro lado, a carência de Tomo é tamanha que essa pode ser a melhor explicação para a facilidade com que se aproxima de Rinko – sem nenhuma figura feminina por perto, ela consegue superar sua homofobia inconsciente, encontrando na casa do tio a família que tanto sente falta.
Ogigami, no entanto, não se contenta em apenas explorar esse drama sob a ótica infantil. Ao trazer outros assuntos potencialmente polêmicos para o debate, ele apenas acrescenta pontos de interesse, sem se debruçar com a devida atenção sobre eles.
Temos a questão do desaparecimento da mãe, chegando até mesmo a uma visita do Conselho Tutelar, mas nada ganha maiores repercussões.
Já a pressão vivida pelo menino da casa ao lado, que arrisca uma tentativa de suicídio, poderia render, por si só, um filme à parte – mas tudo que ganha são alguns minutos no hospital, além de uma conversa rápida entre as duas crianças.
Há uma vontade nítida em discutir estes assuntos, e somente por levantá-los o filme já cumpre importante tarefa.
Filme Entre Laços
Mas há também o risco deles serem encarados com leviandade pela audiência, justamente por não serem explorado em toda a sua abrangência. Aponta-se para várias direções, mas qual caminho é, de fato, percorrido?
Premiado com uma menção honrosa da mostra LGBT do Festival de Berlim, Entre-Laços leva ainda às últimas consequências uma curiosa analogia – a do tricotar como recurso terapêutico para acalmar os nervos e relevar a incompreensão dos outros diante de algo tão simples como a formação de uma nova realidade, tão possível como necessária.
Uma personagem, ao ser questionada sobre “o que é ser normal”, sem saber o que responder, simplesmente afirma: “ora, normal é… o que não é estranho”.
Filme Entre Laços
E diante tamanha incompreensão, Rinko, Tomo e até mesmo Makio tricotam a todo instante, pois fugindo daquilo que os rodeia podem, enfim, encontrarem a si mesmos.
A forma lúdica de lidarem com o problema que, na verdade, é mais dos outros do que deles, serve também como lição.
E, à despeito de um ou outro percalço, este é o maior mérito dessa história: mostrar que, mais do que suas partes individuais, o que importa, em última instância, é o conjunto. Seja um filme ou uma família, independente de como ela – ou ele – se apresente.